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segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Movimento Popular realiza em São Paulo o Primeiro Encontro Rio + 20


No último domingo, 30 de outubro, cerca de 200 pessoas representando 60 entidades e movimentos populares , entre eles O SERPAJ-Brasil, o Movimento Terra de Deus, Terra de Todos, Secretariado de Mulheres do PSDB e o SIDIFONTES – Sindicato dos Trabalhadores em Fontes Magnética e Ionizantes, se reuniram na sede do Sindicato dos Engenheiros, na região central da cidade de São Paulo para discutir apresentar propostas para a Conferência da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, que acontecerá no Rio de Janeiro, vinte anos após a Rio 92. O evento tinha caráter local, porém despertou interesse internacional e a Infoe da Alemanha mandou um representante, o peruano Cesar Villegas.

O encontro constituiu-se de três palestras básicas seguidas de discussões dos temas propostos: Primeiro Tema: Diagnóstico da Situação atual do Meio Ambiente no Brasil em Face dos Compromissos assumidos desde a Rio 92.

O primeiro tema foi desenvolvido pelo ambientalista e Deputado Federal Antonio Carlos Mendes Thame que fez um histórico traçando um paralelo com as duas Conferências anteriores, Estocolmo 72 e Rio 92, se disse preocupado com o tempo escasso para a discussão, três dias, as conferências anteriores foram 11 de dias cada uma. Disse ainda que na pauta estão temas que não estão estritamente relacionados à salvação do planeta, tais como, a superação da miséria. Para Thame a Rio mais 20 corre grande risco de ser mais uma declaração genérica de intenções e não atingir os objetivos para os quais foi convocada, repetindo assim o fiasco que foram Copenhague e Acapulco.

Segundo Tema: Presente e Futuro do Parque Nacional do Xingu e Seus Povos.

O jovem Noel Villas Boas, filho do saudoso sertanista Orlando Villas Boas, fez uma interessante abordagem da Política Indigenista Brasileira e se mostrou preocupado pelo descaso e mesmo pela ação orquestrada do governo brasileiro contra as populações indígenas. Disse que o PAC - Programa de Aceleração do Crescimento do governo federal, vê o índio como um entrave ao desenvolvimento e como tal opta pela destruição pura e simples dos povos indígenas.

“O futuro do Xingu é sombrio e não vejo muita esperança, o que pode salvar os nossos irmãos índios é a união de todos e a mobilização, principalmente agora que perdemos históricos defensores dos índios brasileiros como os irmão Villas Boas” Disse ainda que a FUNAI – Fundação Nacional do Índio, em lugar de defender os índios, trabalha contra eles, e citou as licenças apressadas que o órgão federal vem concedendo para a construção de hidrelétricas nas região amazônica, e em terras indígenas, como a Usina Hidrelétrica de Belo Monte.

Terceiro Tema: Produção de Energia Para o Desenvolvimento Sustentável

O Deputado Federal José Aníbal, Secretário de Energia do Estado de São Paulo, fez uma explanação da produção de energia no Estado de São Paulo, ressaltou o incremento do uso das biomassas, principalmente o bagaço e palha de cana de açúcar para essa produção, falou que está elaborando um inventário da capacidade do Estado para o aproveitamento do potencial energético eólico e solar. Anunciou que já no próximo ano algumas praças e parques da cidade de São Paulo serão iluminados com energia extraída do sol a partir de células fotovoltaicas. Encerrou dizendo que falava apenas por São Paulo, mas que esse exemplo pode perfeitamente ser aplicado como alternativa ou como complemento da produção por hidrelétricas na amazônia.

Kalapalos falam sobre Belo Monte

Como contribuição ao debate, houve intensa troca de opiniões dos presentes, como destaque pode-se citar a participação dos índios do Xingu representados pelo Cacique Kunué Kalapalo e sua filha a jovem guerreira Sany Kalapalo, que fez uma intervenção brilhante, extremamente lúcida e com propostas factíveis. A jovem xinguana centrou suas palavras contra a principal obra do PAC, a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, chamou a atenção para o custo da obra que foi previsto inicialmente em sete bilhões de reais, depois passou para 16 bilhões, depois para 19 bilhões e já está em 30 bilhões, e ninguém pode afirmar ao certo em quanto ficará o custo final essa obra genocida.

“... esse é dinheiro do povo brasileiro, e nem eu nem vocês autorizamos gastar assim o nosso dinheiro. Outra coisa que o governo do PT usa pra enganar o povo brasileiro é dizer que a obra de Belo Monte vai gerar muitos empregos. Vai sim, só durante a construção, depois o que vai ter é muito desemprego na região! Quando esse dia chegar toda aquela gente vai viver de que? Perguntou, e ensaiou uma resposta. Vai passar fome ou vai destruir ainda mais a floresta para plantar alimentos...”, e terminou perguntando: “Isso é desenvolvimento, isso é sustentável?”

Ricardo Tripoli levará contribuição à assembléia Oficial da ONU Rio + 20

O evento contou com a ativa e destacada participação do Deputado Federal Ricardo Tripoli que é o Relator Oficial do Parlamento Brasileiro para a Rio + 20. Tripoli disse que o governo brasileiro certamente será cobrado em razão dos compromissos assumidos, e que infelizmente tem resultado pífio para mostrar. Tripoli disse ainda que iniciativas como essas dos movimentos populares de São Paulo são muito importantes e vão contribuir em muito para o seu Relatório a ser apresentado na Conferência.

O Comitê facilitador Rio + 20

Os trabalhos foram coordenados pelo filósofo Rosalvo Salgueiro, coordenador Nacional do Serviço Paz e Justiça – SERPAJ-Brasil, que criticou duramente o Comitê Facilitador que foi criado para facilitar a participação da Sociedade Civil na Conferência da ONU, mas que na verdade, por estar integradas, quase que exclusivamente, por OGNs e movimentos da base de aliada do governo, tem dificultado a participação que deveria facilitar.

“Esse comitê “facilitador” tem feito todo esforço de dificultar a participação da Sociedade Civil, está mesmo é manipulando para que a sociedade não apresente um diagnóstico real da situação que certamente será contrário ao discurso e aos interesses do PT e seu governo. Esperamos trabalhar em conjunto e fazer propostas unitárias da Sociedade Civil, mas se esse comitê insistir em que só eles é que representa a sociedade, haverá racha”, preconizou!

O ato foi encerrado com a apresentação de uma dança pelo Cacique Kunué que convidou Rosalvo Salgueiro que participou um pouco desajeitado mas foi até o fim da apresentação, sendo a dupla, muito aplaudida no final, e em clima de absoluto congraçamento entre todos os presentes.

Outros eventos serão convocados, inclusive a participação presencial no Rio de Janeiro em junho de 2012.

Na foto, Rosalvo Salgueiro, coordena os debates.

Texto da Equipe de redação do SERPAJ-Brasil e foto de Cleber Dias